quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cosmos

A dimensão da realidade tem a proporção do nosso olhar! Em criança vivi um momento assustador: subitamente compreendi que existe algo demasiado grande, a que chamamos Cosmos, e que todos nós vivemos numa pequena quadrícula, num planeta, a que chamamos Terra. E chamarem Terra à terra em que vivemos foi para mim uma valente partida. É que terra significava um pedaço de horizonte sólido, seguro e perene, com a mesma validade e garantia que continha a existência dos meus pais. Mais... nós íamos todos à terra, e lá na terra moravam os meus avós, e também eles eram sólidos e eternos. Até que percebi que os adultos podiam morrer, as crianças não, mas os adultos podiam morrer, e lembrei-me que os meus pais eram adultos... foi a segunda partida. Dobramos esta fronteira e passamos a ser adultos. Mas nem por isso a dimensão da realidade deixa de ter a proporção do nosso olhar, talvez o que suceda aos adultos é que vão perdendo a capacidade de reconhecer e de se espantar com as múltiplas dimensões que nos rodeiam, provavelmente por nos lembrarmos que a ignorância nos protegia, que morrendo os pais não há quem os substitua... de facto, olhando para o cosmos, não perdemos a dimensão de uma criança.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

I am aware of what you are & what you do

Gosto particularmente desta fotografia. Do branco translúcido, da seta indicativa no chão, das pessoas sem rosto que caminham em direcções opostas, dos contornos da personagem que se perde ao fundo, da frase esbatida mas presente por cima do arco, da escada transversal, bem definida, opaca... Não há aqui nada que nos revele um padrão de belo, há sim uma imperfeição que arrepia num primeiro olhar, mas há também uma presença simbólica que supera a estética e me remete para uma dimensão transcendental: I am aware of what you are & what you do

domingo, 21 de junho de 2009

Plantar

A melhor altura para plantar uma árvore é há 20 anos atrás. A segunda melhor altura é agora...!

(provérbio africano)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cristo

Já andei mais perto de Deus! Mas nunca como hoje tinha andado tão perto do espírito. Deixei de parte a entidade porque fui sempre irredutivelmente susceptível aos ícones e às preces formatadas. Mas nunca alheio ao espírito. Desconfio das certezas e dogmas, prefiro manter-me na infinita fragilidade do meu ser e viver assim, com a certeza da ignorância e sentir ao de leve o sabor do infinito.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Identidade

O tempo passa... mudam-se os ventos, mudam-se as vontades, os gostos, as caras, as modas... também nós mudamos... muda tudo... ou quase tudo... há vidas que nos acompanham de uma forma permanente... que fazem parte da nossa pele como uma identidade. Hoje encontrei esta foto perdida numa pasta do meu computador e lembrei-me do que escrevi em Março deste ano, no dia em que comemorei 39 anos e enviei um email aos meus amigos que dizia assim:

Há pouco tempo atrás perguntaram-me o que é que eu gosto mais na vida, e perguntaram-me assim: “mas o que é que realmente te fascina, o que te inspira, o que te faz correr atrás…?!”… nunca me tinham feito tal pergunta e eu nunca tinha pensado em tal resposta… e ao contrário do que esperaria de mim próprio, apercebi-me que a resposta não vinha aí de dentro a voar… Naquele silêncio em que fiquei, o mais que se ouviu foi uma contínua vocalização em branco: aaaahhhh… e a seguir chegou-me uma interrogação interna, um momento de aflição, uma não resposta… mais silêncio… até que me apercebi que procurava uma resposta que pudesse ser apresentada como certa… uma profissão, um talento, uma causa, uma vocação… mas… nada… e quando consegui dar-me uma pausa, recordo que sorri e com uma enorme confiança e tranquilidade disse: o que eu mais gosto na minha vida… é fácil… das pessoas!

Este post dedico-o aos muitos e bons amigos e em especial à Catarina, que sempre foi e será, para além de tudo, para além das circunstâncias do passado e do futuro, a minha melhor amiga. É bom poder dizê-lo... e partilha-lo!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Túnel

Quando termina este infindável túnel de informação? …Fábrica fecha as portas e desemprega 200 pessoas, gangue assalta joalharia, lista de espera dos hospitais não pára de aumentar, selecção nacional não rende o esperado, homem mata esposa à queima-roupa, jovens portugueses entre os menos optimistas da Europa, taxa de desemprego sempre a subir, mega fraude em banco privado, função pública descontente, greve de polícias, violência nas escolas cresce todos os anos, desastre na A1 mata 5 pessoas, receitas aquém do esperado, armas circulam livremente, taxa de crescimento estagnou, anti-depressivos entre os medicamentos mais vendidos, sondagem revela portugueses descontentes, partidos não se entendem… há uma fobia negativa que nos cerca, corrói e destrói o sorriso a que temos direito. Se podemos fazer melhor? Yes we can!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Verano Azul

Quem não se lembra das tardes passadas em casa dos amigos a vibrar com as histórias do Verano Azul... o formidável Chanquete, a esplenderosa Bea e o inesquecível glutão Piraña?! Era mágico, era tudo o que desejávamos, era uma alegria imensa partilhar aquelas emoções e aventuras. A idade passa mas o Verão volta sempre e sempre azul, e com ele o bom tempo, o mar e os sorrisos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mel

Há dias assim, apanhamos do ar não sei bem o quê e ficamos quebrados. O problema maior é que com o déficit de saúde chega-me sempre o déficit de espírito. E por aqui ando, recluso em casa a tossir para as paredes porque tão pouco me apetece falar. Mel... chá de limão e mel... é a mezinha de sempre. Nunca percebi se resulta porque afinal, com ou sem mezinhas, chega sempre o dia em que nos curamos, e esse dia parece estar a chegar. O frasco de mel, esse, está quase a partir!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sangue

A tarde estava amena e do céu descia uma luz intensa. Pela praça deambulavam famílias, namorados, amigos, ciclistas ao fresco no final da tarde. Fiquei por ali encostado a uma vedação, entre a praça da igreja e um rio que corre ligeiro, a observar aquele formigar de gente incógnita. Deixei-me estar, deixei o tempo perder-se. Olhei para a esquerda, olhei para a direita. Olhei também um pouco para mim. Fui saboreando aquela procissão até me sentir invisível. Inesperadamente, na boca da praça, um vestido vermelho, uma doce gota de sangue, um rasgo de vida, um pano solene de cardeal... e por debaixo daquele encanto teatral a presença alva de uma flor vivida. Caminhava solenemente só. E lá foi ela, até à porta da igreja, prestar as suas contas na casa de Deus.