terça-feira, 15 de junho de 2010

A vida sem... Photoshop

O caminho que se assemelha a uma recta, monótona mas tranquila, capaz de encher de júbilo os receosos de um outro destino, não seduz a realidade, nem sequer Deus, que se deteve na imprudência de largar uma parcela da geometria da vida nas nossas mãos. Há rectas sim, puras e de horizonte aberto, e vivas e sorrisos que respiram infinito. Há linhas que se cruzam e se agarram, há árvores que formam um fio de floresta e suspiros que desejam a quietude de um momento luminoso. Mas a imperfeição da linha destapa sempre uma nova curva e de nada vale a luta ou mesmo uma zaragata... é simplesmente assim, é a vida.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Fantasma

O meu olhar abate-me, regurgita sobre as formas. Importa pois sentir-me atingido por luzes ténues e nelas reproduzir a cor e sua ausência, permanecer imóvel nos bastidores e sobrevoar o invisível, deixar-me tocar por um fantasma e realizar o inesperado, substituir os símbolos, descontruir renegando os padrões, submergir até ao encontro da minha estética, porventura destroçando as fronteiras do perfeito, dos arquétipos, e sinalizar na imperfeição a vitória de na improbabilidade poder atingir o belo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Preferia não

Uma cortina estendeu-se em silêncio zelando pelo fim de um concerto que merecia não terminar. A última nota suou deslizante e sorrateira, rompeu pelo palco, fez-se presente, derreteu o bafo quente do jasmim primaveril e desapareceu. Preferia não.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tempo

O momento inexistente que subsiste no momento seguinte chama-se tempo, tal como a nossa realidade é nossa no querer mas inexistente no tempo, porque se esfuma como o tempo no momento seguinte.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

14600

Fitei a passagem do tempo com o sorriso da alma e a companhia daqueles que me abrigaram sem o medo do desapontamento. Podia estar ali, no meio da paisagem eléctrica, descalço, despido de humanidade e o céu a desabar. Mas quis ficar para trás, deixar-me estar no meu sorriso de criança que sabe rir disparatadamente, sem propósito, sem alcance. Se me procuro destapo o inferno, se me abandono encontro-me numa doce prece.

Target



A P O N T A .......há/à........V I D A


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Detrás

Desci a escadaria do Palácio da Rua do Século num passo de pianista, gozando cada degrau ao som de um compasso lento. Mentira, não desci, fui descendo. Fui gozando, fui sentindo o cheiro húmido das paredes. Sorvi as sombras e a sua face de recolhimento. Senti em mim um espaço aberto à solidão e sorri. Ali estava uma escadaria perdida, orfã de vida, remendada, e do outro lado do silêncio, ao fundo do último degrau, uma luz radiante convidava de novo ao andar. Despedi-me. Olhei em frente e trespassei a porta. Por detrá de algo há sempre algo, haverá pois melhor prova de eternidade?