quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Julho de 2004... o mundo dos meus concidadãos vivos continha as notícias de sempre, a guerra mantinha-se, como sempre, dividida entre o trânsito da minha cidade e os morteiros que caíam algures numa terra de gente desconhecida, como sempre; a paz, também ela, semeava-se diante dos olhos dos mais misericordiosos, como sempre, voando num beijo sentido de uma mãe, nas mãos enroladas dos esperançosos namorados, no desdentado sorriso de uma senhora a quem a idade lhe retirara amavelmente a razão... como sempre! E nesta cascata neutra de acontecimentos esquecemo-nos que cada dia tem nas suas histórias de sempre capítulos que arrebatam almas. Aconteceu-me em Julho de 2004, quando uma luz negra avançou desmesuradamente sobre mim, trazendo uma solidão tão arrebatadora como a seiva de um rasgo de amor. Desejei ser o mais vergonhoso dos vermes, desejei ser uma nota de música que se esfuma, desejei não ter de sentir aquele mastigar penoso. Mas tal como num livro, todos os capítulos têm um fim, e como é libertador descobrir que no fio vibrante da minha vida o cunho da próxima e da última letra terá sempre presente a mão firme da minha autoria.

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